Inebriada de amor
Minh’alma altiva clamou:
“Deixa Senhor que eu seja o teu cantor
“E que o meu cantar
“Seja um hino em teu louvor”
Após o silêncio que em seguida imperou
Uma voz singular ecoou
Na concha do meu ouvido:
“É fácil atender ao teu pedido
“E para muitos antes de ti
“A mesma petição deferi...
“Na fauna, o rouxinol, a humilde juriti
“E quem na densa floresta adentrar
“Poderá escutar o uirapuru a cantar
“Mas neste mundo de eterno competir
“Quem tem parado para me escutar
“Na voz do pássaro a cantar,
“Ou meditar no seu próprio existir?
“Em Assis, séculos atrás,
“Um rapaz abandonou a guerra
“E regressando à sua terra
“Construiu uma capela para me louvar
“Mas a alegria dos pobres,
“Que ali se reuniam, durou pouco
“Incendiaram o pequeno templo
“E o trataram como louco...
“Mas ao queimarem a capela
“Tive o mal a meu serviço,
“Prestando-me real benefício;
“Mostrando que posso estar
Permeando o universo
“E na natureza expresso
“Meu amor pela criatura,
“Que terá toda ventura
“Quando, como Francisco,
“Ver-me sempre refletido
“Na beleza da criação...
“E louvar-me com alegria
“No altar do seu coração”
Emudeci compreendendo o teorema;
Com lágrimas nos olhos, humildemente, pedi:
“Pai, deixa-me ao menos escrever poemas?
Vindo do jardim, um som conhecido ouvimos:
“Bem-te-vi!”
Sorrimos...
(In “Estação do Amor” – 2000)