Como um rouxinol
Cantava minha mãe
Desde o amanhecer
Até o pôr-do-sol.

Sua voz afinada
Por toda casa irradiava,
Trazendo alegria
E bem-estar ao coração.

Certo dia...
Um domingo, ainda lembro,
Acordou-me, muito cedo,
Para que eu fosse à missa.

Levantei-me, sonolenta
E lentamente vesti
Meu vestido branco de organdi.
Calcei meias brancas

E um bendito sapato
Comprado na feira, mais barato!
Quando à igreja cheguei
Esta já estava lotada,

Nenhum banco encontrei
Para ficar sentada.
Era a missa solene
De São Roque, o padroeiro,

O coral que era afinado
Estava bastante afiado
Para cantar em latim!
Com exceção da homilia,

Toda fala que existia
Era dita em latim :
- Dominus vobiscum,
- Et cum spiritu tuo.

Passadas quase duas horas,
O meu vestido novo
Estava com a blusa
Molhada, de suor.

Nos sapatos, os dedos apertados
Encolhiam e se expandiam
Mudando de posição.
Finalmente a missa acaba

E retorno para casa,
Com os pés doídos e calejados.
Mas, oh! Aflição...
Se andar no plano era um martírio

O que dizer de uma ladeira
De grande inclinação?...
E o cruel e rangedor sapato
No meu ouvido a arengar

Com aquele ruído invulgar...
Mas no início da escalada
Ouço uma voz cristalina
De nascente divina,

Poderosa, a cantar:
“Ouviu-se, uma voz lá nos Céus
Entoando suave melodia,
Era um anjo, que no trono de Deus,
Cantava: Ave-Maria ...”

Quase de joelhos
Cheguei à porta de entrada
- Pois a porta da nossa casa
Durante o dia, não era fechada,

Estava sempre aberta
Para todos os chegantes
E também para os pedintes –
Exausta, na sala adentrei

E no sofá descansei...
Descobrindo no meu lar,
Um lindo templo de Deus,
Onde a madre sempre cantava

- Mesmo quando reclamava -
E o padre sempre pregava
- Mesmo quando castigava -
Sobre o amor e a união.